Poesia #1 | O Outono
A gente se apaixona como quem pisa nas folhas do fim da tarde: sem alarde, como o sol que insiste em rachar o silêncio, mesmo quando o frio já tomou a casa e as cortinas permanecem fechadas. Você é satélite, e eu me estico pra ser céu, sabendo que te encontro só na borda do eclipse, um instante cortante, fugaz, mas que pesa, e é nosso. O vento sopra a estação pra dentro de mim. Volto com a estrada agarrada na pele, as mãos marcadas de tanto segurar o tempo, e o peito carregando tuas palavras, presas nos fios soltos da camisa, e enfiadas no bolso da calça. As andorinhas cruzam o verão e somem, fogem. Migram pra encontrar calor em outro lugar, Depois voltam, trazendo o cheiro de um céu que já foi nosso. E eu, que não migro, nem tampouco sou pássaro, carrego o mapa do teu abraço no osso, e o peso do amor na asa. Todo mundo busca um chão pra pousar, e um ninho pra voltar, o meu tem teu nome e eu insisto em chamar de lar.
Gostei muito e adorei a forma como termina. Muito bom.
Que delicadeza nas palavras, gostei bastante! (: