outro dia deitei no gramado, com o sol coroando minha cabeça. observei as operárias em grupo carregando uma aranha morta que deixou para trás os filhos e a família. sem casa e sem lar, abandonou a teia, morreu. não teve funeral. não teve cremação. foi logo arrastada para ser devorada pelas formigas. deixo cair uma lágrima. uma delas para. parece me olhar. o que diria a mim? formigas sentem dor? remorso? se a resposta for sim, então são capazes de amar. amar é doer em si. amar é causar dor ao outro. mas se amam, por que devoram? e talvez estejam certas: amar é comer o outro em pedaços, até que a indigestão nos faça regurgitar, até que não reste nada ou apenas o que pode ser levado para dentro do formigueiro. a formiga me diz que estou errado. que estou delirando. que é para eu sair do sol, que não está me fazendo bem. levanto. vou para a sombra. as formigas entram no ninho, agradecem pelo banquete, oram a um outro Deus, devoram a aranha, abraçam-se no final e dizem: ela está num lugar melhor. por fim, se amam. por fim, se doem. por fim, são formigas. por fim. a aranha era eu.
Qual pedaço seu ainda resiste a ser levado?
Me conta nos comentários.