Poesia #5 | Ninguém herda o trote do cavalo
entre trejeito, rejeito e o danado de um jeito só meu
meu pai, feito carranca, bicho do mato, falava pouco, quase nada. mas sempre repetia: menino, toma jeito! e eu, bom ouvinte que toda vida fui, acatei o conselho, tomei jeito, e acabei jeitoso. do ponto à pinta, cintura mole, língua solta, pegada firme e falador, ajeitado fiquei pintoso. meu pai, desajeitado, vendo meus trejeitos, resmungou, sem graça: menino, toma jeito... outro! e eu, que fui rejeitado, virei coisa, virei bicha, só não perdi o jeito de fazer o danado falar. eu, já sem jeito, perguntei, todo pomposo: mas pai, que jeito é esse que o senhor quer que eu tome? o coitado, enjeitado, voltou a ficar calado. pra não dizer jeito de "homi", me queria era engomado.
O tema é triste, a poesia é linda! 👏🙏🏼
Que texto incrível… sensível, irônico, corajoso. Dá aquele nó entre o riso e o aperto no peito. Uma beleza que também cutuca.